MEU AMIGO MÁRIO COVAS
Neste sábado, 21 de abril, o Brasil que anseia por mais ética, mais seriedade, mais patriotismo, mais verdade, mais honestidade, mais caráter na vida pública, homenageia uma das figuras que mais encarnou essas qualidades, que mais pregou esses valores, que mais praticou essas virtudes: o senador, prefeito e governador de São Paulo Mário Covas Jr.
Ele nasceu no mesmo dia em que morreu o poeta e dramaturgo francês Racine, que disse: “A honra fala, isso basta”, como se o tivesse conhecido. No mesmo dia em que nasceu o sociólogo alemão Max Weber, que disse: "O político deve ter: paixão por sua causa; ética em sua responsabilidade; equilíbrio em suas atuações", como se também o tivesse conhecido.
Ainda adolescente, aos 14 anos, surpreendeu o pai ao dizer que tinha dois sonhos: ser prefeito da sua cidade e presidente do Santos Futebol Clube.
Sua primeira campanha, em 1961, foi para prefeito de Santos. Perdeu a eleição por menos de seis mil votos. Antes da posse, o vencedor morreu num acidente de automóvel, gerando um grande debate na cidade sobre quem deveria assumir: o vice da chapa mais votada ou o segundo colocado? Covas resolveu a questão ao afirmar que o vice deveria assumir.
Vinte e seis anos depois, em fevereiro de 1987, quando ambos disputávamos a liderança da Assembleia Nacional Constituinte, única vez em que estivemos, episodicamente, em campos opostos, acabei tomando atitude semelhante, só que o beneficiado seria ele.
Ele ganhou, no primeiro turno, mas eu teria ganhado no segundo, pois 14 deputados que eram votos certos a meu favor haviam faltado. No entanto, na mesma hora ergui o seu braço e aclamei-o como líder.
Em discurso proferido no dia 29/3/2011, durante homenagem que o Senado lhe prestou, lembrei que “seu discurso era, ao mesmo tempo, de ressurreição do partido, de condução do partido para sua linha histórica, como também um caminho para a construção de uma constituição democrática perene”. Lembrei sua “trajetória de coerência, de sacrifício, de fidelidade às suas convicções, pelas quais havia sofrido com a cassação de seu mandato pela defesa de suas convicções”.
Não tivesse sido abatido em pleno voo, sem dúvida teria chegado à Presidência da República.
Pouca gente sabe, mas, se vigorasse aqui o sistema eleitoral australiano, Covas teria sido eleito com folga.
Em 1989, na primeira eleição direta para a Presidência da República desde o fim da ditadura militar, havia 22 candidatos. Os mais votados no primeiro turno foram Collor (PRN), Lula (PT), Brizola (PDT), Covas (PSDB), Maluf (PDS), Afif (PL), Ulysses (PMDB), Roberto Freire (PCB) e Aureliano (PFL).
O sistema eleitoral australiano é de voto preferencial: os eleitores classificam uma lista de candidatos em ordem de preferência. Por exemplo, o eleitor escreve "1" ao lado de sua primeira escolha, "2" ao lado de sua segunda opção, e assim por diante. Evidentemente, a opção 1 tem um peso maior que a 2 e assim sucessivamente.
Nas pesquisas eleitorais, Covas tinha um bom percentual, mas não suficiente para elevá-lo da quarta posição. Acontece que ele era a segunda opção de praticamente todos os demais candidatos, o que, vigorasse aqui o sistema australiano, lhe garantiria, com folga, a vitória.
Quanta falta fez, e ainda faz, ao Brasil um político capaz de dizer com absoluta convicção, lastreado por uma vida reta, proba, irretocável, coisas assim: “Asseguro, sem vacilação, que é possível conciliar política e ética, política e honra, política e mudança”. “É preciso acabar com o ´rouba, mas faz´. Quem não rouba, faz mais". "Fazer política é uma coisa muito simples, apesar de muitas pessoas pensarem o contrário. Para mim, política é cultivar os valores da verdade, da liberdade, da honestidade, do caráter".
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